Possibilidades de intervenção profissional de educadores de infância, através do acompanhamento a mulheres grávidas com o "Método Psicoprofilático"

Fátima Ribeiro


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Introdução

A realização de um trabalho deste carácter tem como objectivo chamar a atenção sobre um tema tão pertinente, como é este, relacionado com o parto e o medo que ele acarreta para a mulher.

A nossa intenção é apenas a de levantar o véu sobre o assunto, descobrir algumas questões e, mais do que tudo fazer perceber o quanto o trabalho de um profissional qualificado pode ser útil, nesta matéria. Não querendo nunca esquecer a importância que uma educadora pode ter, junto de uma parturiente, no sentido de ajudar a acalmar, a perceber o que acontece durante o parto.

A nossa intervenção serve para ajudar a clarificar este problema, ao mesmo tempo que chama a atenção para a falta de assistência humana que existe nos hospitais, junto das futuras mães. Chega-se mesmo a ter a ideia de que para se dar à luz é preciso sofrer, conotando esta ideia ao prazer, futuro, que é ser mãe.

Ao levantarmos este problema para debate queremos apenas ajudar as pessoas responsáveis a pensar e a arranjar soluções que contrariem a ideia de medo e sofrimento, associadas ao parto, tornando-o desta forma, em algo único e belo.

I- Factores que causam tensão

A civilização actual oferece-nos muitas satisfações e bem-estar. No entanto, obriga-nos a um género de vida que nos traz, muitas vezes, em tensão nervosa. E como principais causas temos tudo o que desperta insegurança, preocupação, medo, quer seja de ordem económica, social, familiar; os conflitos e/ou outros no trabalho, nos negócios, na vida social, desgostos, zangas e desavenças familiares ou entre amigos, decepções; os conflitos consigo próprio (lutas internas, frustrações), as dificuldades do ambiente, trabalho sem gosto, falta de motivação e vocação; a febre da pressa (ansiedade, angústia, luta contra o relógio), ambições desmedidas, corridas atrás da fortuna, luxos exagerados, ostentações, vícios, o que sirva, de certo modo, ao materialismo cego, sem medida nem idealismo.

Como curiosidade podemos ver que estamos perante uma sociedade anónima, mecanizada e agressiva, e que actua perante os seguintes sistemas orgânicos:

è sistema nervoso: alterações de humor, depressão, tristeza, sensibilidade excessiva, contrariedades e dores;

è más gestões: cólicas abdominais, acidez do estômago, prisão de ventre;

è coração: má circulação, palpitações, alterações de tensão arterial;

è respiração: sensação de falta de ar, asma alérgica;

è nível uterino: alterações das menstruações, mau funcionamento dos ovários, vaginismo.

Todos sabemos que o ser humano, na sua maioria, não pode afrouxar os seus nervos e músculos como as crianças pequenas, pode, porém, aprender a fazê-lo. Por isso mesmo o relaxamento é considerado como um dos pilares fundamentais na preparação do parto.

A aplicação prática consiste em dar, em primeiro lugar, à mãe (muito antes de dar à luz), um ensinamento rigoroso, adaptado à sua capacidade intelectual, sobre os processos naturais que se desenvolvem durante a gravidez, e de um modo particular, durante o parto.

Os cursos de preparação para o parto nasceram na Europa, no princípio deste século. Um obstreta inglês apercebeu-se, no hospital, que as mulheres se sentiam tensas, com medo, sós e davam à luz com dificuldade, sendo necessário, por essas razões, intervir, não só sobre o seu estado físico, mas também sobre o seu estado psicológico.

A partir desta observação começou a preocupar-se com a necessidade de vencer aqueles temores: desde o medo da dor e do risco inerente ao parto, até ao medo maior causado pelo ambiente hospitalar, informando as mulheres grávidas do que lhes iria acontecer, ensinando-as a colaborar de uma forma activa no nascimento do filho, diminuindo assim a dor.

II- Preparação para o parto pelo método psicoprofilático

Em 1954, a médica Cesina Bermudes e uma equipa constituída pela psiquiatra Seabra Martins e os obstetras Pedro Monjardino, M. Rosário do Carmo e Ferreira Vicente iniciaram, entre nós, a prática organizada do parto sem dor.

Hoje, muitos obstetras do país estimulam, ou aceitam, a orientação pelo método psicoprofilático, das grávidas seguidas nos seus consultórios e há fisiatras, enfermeiras, parteiras, professores de educação física e fisioterapeutas, que fazem a preparação para o parto.

No entanto, o parto sem dor não pode beneficiar toda a massa populacional do país, enquanto o Estado não se debruçar com verdadeiro interesse sobre o assunto, fomentando a organização de equipas, onde não falte o psicólogo e apetrechando convenientemente, nas salas de parto, com vista a proporcionar a um grande número de utentes (mulheres) a descoberta do parto sem dor, mesmo que o investimento tenha custos muito altos.

A preparação para o parto prepara a mulher grávida para um parto feliz e indolor. Também estende os benefícios ao ser que palpita no seu seio, o qual, graças à preparação da mãe, nasce geralmente mais tranquilo, alimenta-se e cresce melhor e chora menos.

É evidente que são necessárias obras, que ensinem a gestante a preparar-se para um parto feliz, porque (1) são o melhor recurso para fazer chegar à maioria das mulheres os conhecimentos indispensáveis, para que se livrem dos perigos e das dores; (2) nem todas as gestantes têm ao seu alcance um especialista que as aconselha e; (3) em tal caso, seria necessário um acompanhamento por elementos responsáveis nesta área.

O Doutor Vander, um precursor das ideias, que deram origem ao método do parto sem dor, é sem dúvida a autoridade indicada para expô-lo ao público, através das suas obras.

2.1- Objectivos de preparação para o parto:

  1. Eliminar da mente informações erróneas adquiridas por herança, mitos ou de gerações em gerações;
  2. Preparar ou ajudar para uma atitude mental e ânimo favorável, para o parto tornando-o rápido e fácil;
  3. Incutir e fazer aperceber-se que a maternidade é o acontecimento mais bonito e natural, e que além disso é inato;
  4. Comunicar verbalmente com a vida intra-uterina;
  5. Participar activamente antes, durante e após o parto e o nascimento da criança.

A informação e educação para a saúde são aspectos fundamentais para atingir a "Saúde para todos no ano 2000". Para que esta meta seja alcançada, são necessárias a responsabilização, a participação activa e a capacidade de cada um poder cuidar da sua própria saúde. As mulheres, especificamente as mulheres em idade fértil, constituem um grupo vulnerável, em relação ao qual é urgente desenvolver acções de informação e formação, nomeadamente nas áreas do planeamento familiar, vigilância da gravidez, parto e puerpério.

A divulgação de uma informação correcta sobre estes temas, vai decerto contribuir para diminuir alguma situações de risco durante a gravidez, parto e do recém--nascido. A ignorância do seu próprio corpo, o temor de uma gravidez versus a felicidade de estar grávida, são situações reais e perturbadoras na evolução da gravidez. Desmistificar e mudar atitudes face à saúde e em particular à gravidez, e a importância de esta ser desejada, exige uma informação clara e cientificamente fundamentada.

O parto sem dor, pelo método natural, é hoje uma realidade; as clínicas e as estatísticas demonstram-nos claramente. Essa maravilhosa descoberta da nossa época constitui um sistema completo que pode ser aplicado por todas as mulheres, com magníficos resultados.

 

2.2- Como é que o medo, embora inconsciente, torna o parto doloroso?

O medo põe o cérebro em estado de excitação excessiva e anormal, fazendo assim a interpretação dolorosa dos estímulos, que lhe chegam ao útero, durante as contracções em trabalho de parto.

Todos sabemos que o medo provoca ou produz contracções anormais, em diversas partes do corpo e que um dos lugares onde as contracções são mais frequentes é o do colo do útero. Ao contrair-se, durante o parto, dificulta a necessária e natural dilatação do orifício uterino que, por sua vez, torna mais difícil a saída da criança, tornando o parto demorado e doloroso.

Segundo o Doutor Read, que é um dos pioneiros da preparação do parto, durante as horas que antecedem o parto a mulher deverá sentir-se cheia de pensamentos positivos, bem relaxada e pôr em prática tudo o que aprendeu, dando o máximo de positividade ao seu filho. Sem dúvida que estes pensamentos devem ser sinceros, doseados de um sentimento materno, profundo e real. A criança recebe todos os estímulos dos sentimentos, e como a principal vontade da criança é nascer e viver, os estímulos que a mãe lhe envia transmitem força e tranquilidade. O útero também é atingido por esses estímulos e prepara-se para uma expulsão perfeita, possibilitando a tão desejada dilatação.

Sendo assim, penso que devemos entender a palavra medo não no sentido corrente, mas sim no sentido amplo, incluindo tanto o medo consciente como o inconsciente, ou seja, aquele que será oculto no fundo da nossa personalidade, causador principal da sensação de angústia ou insegurança que tantas vezes sentimos.

É necessário e urgente não continuarmos apegados a heranças informativas de um passado remoto, cheio de ignorância, mistificações, de medo e limitações, porque não vivemos ou viveremos a vida tal qual ela é, ao mesmo tempo, não teremos hipóteses de criar um ambiente livre e sadio.

É urgente que a mulher se consciencialize que o relaxamento é um pilar fundamental para o bom sucesso do seu trabalho de parto e que não basta dizer "quero relaxar-me", para consegui-lo. É preciso seguir um bom método e dedicar certo tempo à sua prática.

III- Intervenção profissional de um Educador de Infância

Deve ser preocupação suprema dos pais, médicos, educadores, de todos nós, criar uma criança saudável. É nela que residem as esperanças, sonhos e sabedoria de todos nós, ela é o nosso futuro, e se queremos que seja um futuro livre das feias perturbações e dos sofrimentos desnecessários, que tantas vezes marcaram o nosso passado, essa criança deve ser tratada com amor e o respeito que o ser humano merece. E é aqui que a educadora pode desempenhar um papel importante junto da mãe, ajudando-a a ver a gravidez como esse acto natural, explicando-lhe todo o processo desde a concepção até ao nascimento da criança. Portanto, desde o início, a concepção deve ser aceite com alegria. Todavia deve ser preparada para ter lugar numa atmosfera de plenitude e de pureza espiritual e em condições físicas relativamente perfeitas.

Teoricamente, essa concepção saudável é possível se for voluntária e que não esteja submetida a hábitos ancestrais, que muitas vezes perturbam o nosso comportamento.

Numa fase posterior, a educadora pode influenciar e mentalizar a gestante para uma preparação para o parto, que traz benefícios, não só à gestante, como ao próprio bebé. Depois de ter recebido uma formação nesta área poderão ser elementos importantes para:

u realizar leituras agradáveis para a gestante;

u ajudar e ensinar a relaxar ao som de música suave e calma;

u fazer companhia nos passeios e ajudar a fazer exercícios;

u dar sempre informação à mãe sobre o parto e também noções básicas do tratamento do bebé, depois do seu nascimento;

u orientar a mãe nas reacções e estímulos do bebé para uma possível intervenção educacional e precoce.

 

BIBLIOGRAFIA

  • Caplan, R. (1986). Princípios de Obstétricia. Lisboa: .Fundação Calouste Gulbenkian.

  • Clayman, C. B.; Nóvoa, M. (1994). Gravidez e parto. Porto: Livraria Civilização.

  • Joaquim, T. (1983). Dar à Luz. Ensaio sobre as práticas e crenças da gravidez, parto, pós parto em Portugal. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

  • Torrescasana, J. M. (1989). Os nossos Filhos. Guia dos Pais para uma educação integral das crianças. Lisboa: Edições Verbo.

  • Verny, T.& Kelly J. (1984). A vida secreta da criança no útero. Portugal: Círculo de Leitores.

  • Vander, Arthur J.; Sherman, James H. (1981). Fisiologia humana. Rio de Janeiro: McGraw-Hill.


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